O MARTELEIRA (2)

04-03-2015 14:17

O "cromo" MARTELEIRA (2)

 
 
O estagiário engº Marteleira, "cromo" como era, não nos podia abandonar sem deixar ainda mais vincada a sua passagem pela VI Linha Fabril da Cimpor, em Alhandra. O principal autor (e ator) das mais variadas sagas, ainda tinha muito para dar, como se pode comprovar na crónica que se segue. Este episódio, que também tem algo de excêntrico, só podia mesmo ser protagonizado pelo nosso engº Marteleira.
O principal ator de outras sagas, não nos quis deixar sem participar nesta - mais uma - a juntar ao seu vasto currículo.
Precisando que mudassem o óleo do seu NSU, meteu uma cunha, no sentido de que a operação fosse efetuada na oficina mecânica da obra. Ora, como ele era da empresa e, além do mais, era um tipo porreiraço, que até fazia questão de afirmar que não gostava dos comunistas, foi-lhe dada essa abébia, e a mudança de óleo foi mesmo efetuada na oficina. Porque estávamos na tarde de sexta-feira e aproximava-se o fim-de-semana de Carnaval, pediu para que o não deixassem enrascado, já que tinha assumido compromissos na terra, aos quais não podia faltar. E assim foi: o mecânico Nogueira assumiu o comando da operação e, passados que foram uns vinte minutos, ficou o engº Marteleira a saber que podia, a qualquer momento, sacar a sua bela máquina e, nela, seguir caminho até, pensava ele, à vila da Lourinhã. Agradeceu os préstimos do staff da mecânica, sorridente, esfregou as mãos de contentamento, despediu-se com abraços, e seguiu, fábrica adentro, procurando os trilhos que o haviam de conduzir à sua adorada Lourinhã. 
Porém, mal saiu da localidade de Alhandra, e por ter dado mais um pouco de gás à viatura, notou um barulho esquisito, que lhe pareceu ser proveniente da roda dianteira, do lado direito. De tanto escutar, distraiu-se e deixou que aquele rodado saísse do asfalto e tivesse afundado no mole terreno da berma. Como viu o afundanço pender para aquele ponto, foi levado a pensar que lhe tinha saltado fora a roda daquele lado; do lado de onde provinham os tais barulhos. Assustado q.b., saiu do carro num salto, e correu cerca de cem metros para trás, tentando, por aí, achar a roda que, para ele, tinha ficado pela estrada ou caído na valeta. Naquele momento de frenética pesquisa, aproximou-se uma motoreta, a cujo condutor o Marteleira fez sinal para parar. À pergunta, "se tinha visto por aí uma roda", o outro respondeu com um não. Mas o motociclista, colaborando, não prosseguiu na sua viagem. Antes acompanhou o Marteleira na pesquisa da misteriosa roda que, para o seu dono, por artes do Demo, se tinha esfumado.  Valeta abaixo, valeta acima, um do lado esquerdo e o outro do lado direito, passaram tudo a pente fino, mas debalde. O diabo da roda não aparecia nem por nada. Já descoroçoados, aproximaram-se ambos do NSU do engenheiro, deram a volta ao carro e descobriram que a tal roda que procuravam, estava sossegada e inerte no seu devido lugar. Estava atafulhada de lama, mas estava lá.
Já mais calmo, pegou na viatura, fê-la girar 180º, e voltou à oficina da obra, onde relatou o percalço ao mecânico Nogueira. Este, que meia hora antes, tinha colocado umas pedrinhas, tipo gravilha, no interior do tampão, deixou-o sair para dar tempo de proceder à retirada das pedras. Depois, chamou-o para lhe fazer a entrega do NSU, agora em perfeitas condições, sem barulhos.
 Para que conste, o engenheiro foi o primeiro a contar a saga da roda que se julgava perdida, algures, numa valeta da berma da estrada da Arruda, e o mecânico Nogueira ficou a saber, que aquela partida de Carnaval poderia levar algum erudito a transportar o cómico episódio para o cinema. Estivéssemos nós em Hollywood…


Por coincidência, o motociclista que ajudou na investigação do"mistério da roda sumida", era carpinteiro na mesma Obra onde estagiava o engº Marteleira. Ele não conhecia o estagiário, mas, dois dias depois, quando o viu no estaleiro, meteu conversa com ele e ficou a saber que o distraído condutor do NSU era engenheiro e lourinhanense. Quando, nos meios rurais, se dizia que: “Ó pá, tu pensas que eu sou da Lourinhã?” estariam a relacionar a frase com o nosso amigo Marteleira? Eu digo que não, porque o Marteleira não era assim tão velho. Ele era um estagiário de uns vinte e poucos anos, mas que era um grande "cromo", lá isso era.