FÁTIMA, FÁTIMAS e فاطمة (FATIMAHs)

25-02-2015 18:13

A FÁTIMA e a (فاطمة) FATIMAH

 

Esta é a فاطمة  (FATIMAH)

Fatimah (فاطمة) e Fátima. 

Esta é uma insofismável verdade, já com muitos séculos. A palavra acentuada com o agudo, do foro toponómico, nem tanto, mas a simples, a original Fatimah (فاطمة), já vem de longa data. E nada me diz que esta tenha sido a primeira... Em Portugal há uma Fátima, com acento agudo, localidade que, pessoalmente, ou não, toda a gente conhece. Também no Brasil, que eu saiba, existem quatro povoações com essa denominação. Agora, meninas e senhoras a quem foi dado esse nome próprio - umas mais mediáticas que outras - temos muitas. Por cá e, também,  por lá. Se não vejamos: 
Em árabe, temos a original (?) فاطمة (Fatimah), filha mais nova de Maomé. Terá nascido em Meca, no início do século VII da nossa era. E, mesmo nos nossos dias, muitas mulheres árabes se assinam por فاطمة (Fatimah). Em Marrocos, onde estive de 1976 a 1978, deu para ver que havia por lá muitas meninas e senhoras com este nome. Por cá, idem. Desde as duas Fátima Lopes, até à "consagrada "Fati", da "Casa dos Segredos", há a garantia de que o nome é para continuar. E na nossa vizinha Espanha, também por lá há lá muitas Fátimas. Mas, agora, perguntar-me-ão: 
-"Toda esta lengalenga vem a  propósito de quê?" E eu conto.
Raro é o dia em que eu, vindo da caminhada matinal, não paro na frutaria do Sr. Gaspar, a fim de me abastecer com umas frutitas que ajudem a compensar o esforço dispendido no circuito do Parque da Cidade. Este Gaspar é um tipo sisudo, macambúzio, casmurro e somítico, do tipo "unhas de fome", que, só de se olhar para a sua cara, dá vontade de dar meia volta e sair porta fora. Se fosse no Cartaxo, chamar-lhe-iam "rebola caixotes"; eu, aqui no Porto, chamo-o de "rebola maçãs". Mas, como em termos de frutas e hortículas, tem sempre boa mercadoria, lá faço o sacrifício de lá voltar a cada dia. Quanto mais não seja, só para ouvir certas conversas, piadas e impropérios, proferidos pelas clientes, senhoras de bom aspeto, e não só, já não era tempo perdido. Mas, retomando o fio à meada, vou contar uma cena que por lá presenciei há dois dias e, como não podia deixar de ser, metediço como sou, também nela me envolvi.
E, mais palavra menos palavra, ouvi  isto:
"Se fosse eu a mandar, a RTP 2 não transmitia nem mais um capítulo dessa ridícula série com o título "PRÍNCIPE!" - e sem se deter - "Como se não bastasse a propaganda que fazem aos jihadistas, ainda põem lá uma gaja marroquina com o nome de Fatima. Ainda se ela fosse portugues, ou mesmo espanhola, ou fizesse papel disso, tudo bem, agora marroquina?!... Isto, é uma ofensa para a nossa religião e para a nossa Fátima!"
Como todos/as ouviram o mesmo que eu, mas ninguém lhe deu "troco", nem sequer o Gaspar, vi-me na contingência de o fazer eu próprio, por minha conta e risco (*). Então, perguntei-lhe: 
-" A senhora, o que é que acha se eu lhe disser que esse nome, embora adotado em várias latitudes, não é originário de Portugal?" 
- e responde ela:
- "O quê! Fátima não é nome português? Essa agora tem que ver!... 
- e disse-lhe eu: 
- "Pois tem que ver! A senhora é que tem que ver os escritos que documentam essa realidade! Leia! Leia, minha senhora, porque isso, só lhe faz bem! Porque esse nome é de origem árabe."
Bem! Assim que acabei o discurso, estava à espera de um contragolpe (como diria o J.J), com um chorrilho de asneiras... mas não. A senhora olhou em redor, como que a retemperar o fôlego e as energias, e disse:
-"Pois fique o senhor sabendo, que eu tenho em casa uma boa enciclopédia e uma grande biblioteca (esta gente exagera). Assim que lá chegar, já vou tirar isso a limpo!" - ao que eu, em jeito de remate de conversa, finalizei:
- "Acho muito bem que o faça, para se tirar de dúvidas! Depois, se nos cruzarmos por aqui, diga-me a que conclusão chegou!"
E acabou por aqui o proveitoso diálogo.
Ainda bem que eu também tenho visto essa série, senão, era capaz de ter que ficar calado, deixando a senhora argumentar à sua vontade, revelando a mágoa e a revolta que lhe iam na alma, pela afronta da menina bonita, que desempenha o papel de Fátima, ou Fatimah.

(*) Por minha conta e risco, porque, como é hábito aqui pela zona, o mais natural era ter que ouvir um chorrilho de asneiras. Mas, vá lá, escapei.